O que leva uma pessoa a intencionalmente piorar a própria vida?
Quando você sabe que algo vai te fazer bem, vai te trazer felicidade e MESMO ASSIM não faz.
É aquele sentimento de frustração de você deixar de lado tantas coisas que você sabe que vão enriquecer sua vida
É aquela sensação de culpa que vem quando você erra, sabendo que está errando; e por consequência sabotando seus próprios objetivos
Conhece? Essas são as consequências da Procrastinação
Não seja um animal
Em outro universo temos a proatividade e a consistência. Avançar nas coisas. Acabar aquele livro, fazer aquele curso. Completar semana após semana de treino. Acordar no horário, ter uma manhã calma e começar bem o seus dias
Mas pra chegar nesse outro universo, existe um processo, e isso começa com uma realização:
Infelizmente procrastinação não tem cura. Se alguém te prometer a cura da procrastinação, fuja.
A procrastinação não tem uma cura definitiva assim como o processo de ganhar peso não tem cura ou o processo de envelhecimento não tem cura
A procrastinação é um mecanismo natural do seu cérebro pra se proteger. Mas infelizmente como muitas coisas “naturais” nós precisamos aprender a regular isso, pra viver a vida que realmente queremos.
Se nós simplesmente nos deixamos levar pelos nossos instintos naturais o tempo todo vamos acabar obesos, sujos, e provavelmente presos.
A facilidade de ganhar peso e querer comer a comida mais calórica sempre, mesmos sem fome é natural.
Vontade de esmurrar a cara de todo mundo que te trata mal ou te ameaça é natural. Percebeu o perigo de só ser “natural” o tempo todo com o comportamento?
Procrastinação é natural. Então você precisa aprender a lidar com ela no dia a dia. Apesar de não ter cura, procrastinação tem tratamento. É algo que precisa ser cuidado o tempo todo, que nem a pessoa que tem TDAH toma remédio e o diabético toma insulina
Não é sobre prazos
Uma coisa que você precisa entender: você está prestes a entender mais sobre procrastinação do que 99% da população.
E uma diferença essencial é o quão limitada é o conceito de procrastinação no imaginário geral. Procrastinação normalmente é definida como “deixar as coisas pra última hora.” Mas essa simplificação limita a procrastinação a tarefas com prazo.
Isso sinceramente, na maioria dos casos, essas situações se resolvem sozinhas. Com muito estresse, muito ansiedade de uma forma altamente insalubre e ineficiente, mas se resolvem. Hora que o prazo aperta o suficiente, você se mexe e faz.
É claro que isso tem que melhorar. Esse estresse é desnecessário e você pode ser organizar bem melhor… mas no final, você acaba resolvendo.
A resolução que você realmente quer não é só sobre produtividade, gestão de tempo, trabalhos, estudos e etc. Grande parte da procrastinação são coisas sem prazo, que dependem só de você. E nesse caso o estresse é menos evidente, ele vem e volta.
Você vai mascarando a urgência daquilo e fazendo desculpas de por que não pode ou não precisa fazer isso agora
Mas você continua se sentindo mal.
Por que não resolve. Fica patinando, enrolando e se sentindo culpado por ter se enganado. De novo. E isso normalmente é com aquelas coisas mais importantes da vida. Que naturalmente não tem prazo. Ser importante e ser urgente não são sinônimos.
Muitas urgentes não são tão importantes assim. E muitas das coisas mais importantes não são urgentes mesmo. Seus relacionamentos. Sua saúde. Seu desenvolvimento. Seus sonhos.
Mas se não agora, então quando? Nunca? Se continuar assim…
Se você quer ver algumas das nossa soluções continuas para procrastinação, dá uma olhada aqui: Programa Neurofood 3.0
Então é só fazer o certo. Certo?
“Just do it” – (”Só faça” em português)
Esse é o slogan da Nike. Uma empresa baseada na ação, movimento, trabalho duro, sucesso, vitória. Faz todo sentido. Sem ação não se chega a lugar nenhum. Não pense muito, não se questione, só faça! Genial.
Agora de volta à vida real. Quando eu tinha 9 ou 10 anos, na escola, eu odiava fazer lição de casa. Era um drama de estremecer a casa. Eu era birrento, estressava todo mundo. Colocava uma séria energia em não fazer a lição de casa.
Mas eu gostava de jogar futebol. Um belo dia ganhei minha primeira chuteira da Nike. Gostei tanto que deixei a caixa da chuteira à vista no meu quarto com as chuteiras posicionadas em cima como se fosse uma obra de arte.
Um dia, durante um briga sobre eu não estar fazendo minha lição meu pai apontou pra aquela frase na caixa da chuteira e falou:
-”Você sabe o que significa isso? ‘Just do it’ Só faça! É o que todos os melhores jogadores fazem!”-
Eu me aquietei, apertei os olhos e prestei mais atenção
-”Se você parar de enrolar e só fizer sua lição você vai ter mais tempo pra jogar bola depois”
Aquilo fez sentindo, mesmo para meu cérebro rebelde de 10 anos de idade. E ai você já pode imaginar o que aconteceu depois.
Nada. Eu refleti por alguns minutos, mas aquela motivação barata não me fisgou da maneira esperada. Aquilo fazia sentido pra mim, mas mesmo assim, não mudava meu comportamento.
Um detalhe importante desse flashback é que as lições de história, português, geografia eu fazia. Eu não gostava, mas era mais fácil, eu tinha mais facilidade e eu fazia Agora, quando era de matemática, que drama. Era ali que a procrastinação e o estresse reinavam
Hoje eu entendo por que o “Just do it” não funcionava. Mesmo com a lógica de que se eu fosse logo eu teria mais tempo livre, não funcionava. Porque o problema não era o tempo, ou o quão chato era aquela lição. Também não era falta de energia.
O tanto de energia que eu investia em brigar pra não fazer falava por si só.
O problema era que eu não queria me sentir burro.
Eu tinha a impressão que eu era ruim em matemática, eu não conseguia entender direito, custava muito lembrar as regras da divisão, decorar a tabuada.
Tinha medo de que se se eu errasse na lição, eu era uma falha. Minha autoestima estava em jogo ali. Não era uma simples lista de exercícios. Eu ficava ansioso com essa experiência.
Queria evitar ela a todo custo. Preferia receber esporro de não ter feito a lição do que de me sentir incapaz.
Porque se eu não fizesse, era esquecido, irresponsável, desorganizado. Isso não me afetava. Tudo bem, melhor que ser burro.
É desse reconhecimento que vem a solução. Por que eu realmente procrastinava?
Procrastinação é Ansiedade
Ansiedade em geral é uma preocupação exacerbada sobre eventos ou consequências futuras, sejam elas reais ou imaginárias.
A procrastinação é uma forma de expressar a ansiedade relacionada a como você acha que vai se sentir quando começar a engajar em alguma tarefa ou atividade.
Em outras palavras, o ato de procrastinar é um mecanismo de defesa
Você está evitando algo que sabe ser importante apesar das consequências negativas que você (também) sabe que terá. Por que? Por que você não quer se sentir mal.
Mal como? Você não quer falhar, não quer se frustrar, não quer se sentir incapaz, não quer ser ridicularizado, não quer se expor à críticas.
Mas quem falou que isso vai acontecer? Ninguém. Você mesmo está imaginando essa situação de forma quase inconsciente
Essa lógica não é explicita. Você não tem essa noção logo de cara: que você está procrastinando por um medo ou insegurança.
Você acha que é falta de motivação, falta de energia. Mas não, é algum receio de que você vá ter uma experiência traumática fazendo o que você tem que fazer
Imagine uma situação simples: Você tem seu TCC pra fazer, seu projeto final da faculdade. Te deram 6 meses pra fazer. Mas você só começa a trabalhar nele no último mês do prazo.
E não é por razão nenhuma. Você não tem mais tempo esse mês. Você só deixou pra última hora mesmo. Claramente uma decisão ruim. Por que você faz isso? Porque voluntariamente você se expõe a tanto estresse?
O processo é assim: você sabe que precisa começar.
Mas toda vez que você pensa em começar o seu trabalho, vem uma resistência. “Não sei como começar ainda”. “A ideia é complicada, preciso estudar.” “É muita coisa pra fazer agora.” “Me sinto perdido, preciso de ajuda antes”
E você procrastina.
Outro exemplo rápido. Por que você ainda não começou a praticar aquele esporte, instrumento ou idioma que você tanto quer? Ansiedade. Medo de se sentir envergonhado, rejeitado, inferior, inadequado.
Especialmente quando essa atividade significa algo importante pra você, pra sua identidade, pra sua carreira. É aí que você mais procrastina. Por que custa muito caro errar em algo que importa e que afeta sua autoestima.
Mas sabe o que mais afeta sua autoestima? Se sentir incapaz. Se sentir travado e culpado. Você erra todas os chutes que você não dá. Pra dar certo, primeiro precisa começar.
Quando você se pegar procrastinando algo, analise qual é a ansiedade por trás. Qual o sentimento que você está evitando ao procrastinar?
Só identificar esse sentimento é o suficiente. Aí sua racionalidade toma conta e você neutraliza essa ansiedade
Como parar de se arrepender
Para continuar, precisamos concordar com 2 premissas
- Nós estamos propensos a buscar prazer e evitar dor
- Nosso cérebro é ruim de prever nosso estado emocional no futuro
Com essas 2 premissas a gente consegue chegar em um conclusão muito importante. E essa conclusão vai te ajudar a entender porque quando existe um conflito de motivações, a motivação de fazer o “certo” quase sempre perde
Essa conclusão eu chamo de inconsistência temporal
Imagine o seguinte cenário: São 18:30, você está em casa descansando depois do trabalho vendo uma TV. Você tem planejado para ir treinar as 19h e precisaria sair agora para chegar a tempo.
Nessa hora seu cérebro vira uma balança, pesando CUSTO e BENEFÍCIO da sua próxima decisão.
No momento presente, ali sentado na frente da TV, o CUSTO de desligar sua série, levantar do sofá, sair de casa e ir treinar está muito alto. Já a CUSTO de pular o treino é mínimo.
É só um dia, não vai fazer diferença, não vai mudar sua vida.
Por outro lado o BENEFÍCIO de continuar ali de boa, relaxando tá muito alto. Você não precisa fazer nada e ta automaticamente recompensado.
Já o BENEFÍCIO de treinar ir agora, tá sendo considerado baixo. Isso porque a recompensa de treinar só começa a aparecer depois que você começa a treinar. E os maiores benefícios só depois de muito tempo de treino, depois de fazer esforço.
Ou seja no momento ali as 18:30 a balança do seu cérebro está pesando fortemente para o lado de evitar a atividade, procrastinar.
Mas quando o tempo passa, o jogo vira…
Se você escolheu ficar na TV, quanto mais tempo você assiste, menos prazer você sente e mais arrependido você fica. Ou seja, rapidamente o CUSTO aumenta e o BENEFÍCIO cai. Mas se você escolheu ir treinar, o CUSTO passa rápido, normalmente com 5 minutos de treino você já tá feliz de de ter ido.
Na pior, você fica feliz dali 1 hora quando acabar. E o BENEFÍCIO pode durar o resto do dia com a satisfação física e psicológica
Ou seja, a CUSTO diminui e o BENEFÍCIO aumenta e fica alto
Por isso chamo de inconsistência “temporal”. Porque nosso cérebro nos sabota ao ter esse erro de previsão de recompensa futura.
Ele acaba sobrevalorizando o curto prazo e subestimando o longo prazo. E de forma natural isso vai acontecer sempre.
Porém, só de saber disso, as coisas já vão mudar pra você. Toda vez que você perceber que tá se sabotando, tente se visualizar no futuro.
Como você fica se procrastinar? Como você fica se fizer? Treine sua mente dessa forma para quando a vontade de fazer m*rda chegar (e vai chegar) cabe a você decidir como você vai reagir.
A fórmula secreta
Essas duas realizações vão te ajudar muito tratar realmente as causas da sua procrastinação.
E isso não é uma tarefa fácil. Todo esse pensamento racional, esse acionamento do seu cortex pré-frontal cansa.
É cansativo ficar analisando qual ansiedade trava qual comportamento, e ficar visualizando como você vai se sentir no futuro. Esse é o jeito. Treinar.
É a única maneira de realmente tratar essa autossabotagem e conseguir ficar mais tranquilo e mais satisfeito com suas decisões
Mas como agora você entende isso, você pode usufruir de uma estratégia pra simplificar sua vida e melhorar sua constância com certos hábitos que você procrastina.
Esse método é chamado de “intenção de implementação” e já foi estudado em pesquisas científicas, demonstrando uma efetividade consideravelmente maior do que só expor os participantes a conteúdo motivacional
Funciona assim: ao invés de só falar: “Quero fazer tal coisa mais”, você fecha mais essa definição pra não deixar dúvidas e possibilidades de desculpas pro seu cérebro. Sua intenção de implementação fica assim:
Vou fazer [ATIVIDADE X] por [Y tempo] no [DIA X] as [Z HORAS] em [LUGAR Y]
Exemplos:
- Vou correr por 30 minutos, segunda, quarta e sexta, as 7:00 no parque da cidade
- Vou cozinhar e preparar minhas marmitas, 2 horas antes do meu jantar de domingo
- Vou meditar, por 15 minutos, de segunda a sexta depois do café da manhã, na minha sacada
Assim você tem muito mais clareza e simplicidade para realmente implementar o conhecimento que você entendeu em forma de conceito.
Se você quer mudar algum comportamento na sua vida, qualquer que seja, você precisa dessas 2 coisas
Conceitos fundamentais e ferramentas práticas
Se você só vai atrás dos atalhos, dos hacks, dos macetes, você acaba não usando por que aquilo ta solto, não tem contexto, não tem um lugar onde se plantar no seu entendimento do mundo.
Se você fica só na teoria, é difícil saber o que fazer no dia a dia quando o negócio aperta. Por isso você precisa dos dois.
Um fundamento que você entende, concorda e dá sentido pra mudança, e ferramentas pra ter clareza do que fazer dia após dia pra chegar onde quer
Alimente sua mente
